DISCÓBOLO DE MIRÓN- SÍMBOLO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

sábado, 29 de janeiro de 2011

Overtraining: o excesso de exercícios prejudicando o corpo

Com a crescente valorização do "corpo perfeito" dada pela mídia aos marombeiros de plantão, as pessoas estão cada vez mais procurando as academias e clubes esportivos visando atingir, através de exercícios físicos, um corpo mais musculoso e fortificado. Porém, em muitos casos o sujeito treina, treina, treina e não percebe ganho algum de massa muscular nem aumento da resistência orgânica. Com isso ele pensa: bom, se não estou melhorando meu organismo com a dosagem atual de exercícios então vou aumentar esta dosagem de modo a que possa obter os resultados que desejo. Neste momento é que começa o problema; muitas vezes a não obtenção imediata dos resultados esperados faz com que as pessoas aumentem a dose de exercícios, quando na verdade deveriam descansar, começando a partir daí a ficar caracterizado um dos principais fenômenos observados na educação física atual: o overtraining, que esta muito crescente nos esportistas em todo mundo.

O overtraining pode ser definido como sendo a condição na qual as pessoas apresentam baixo nível de desempenho, apesar do treinamento continuado ou até mesmo aumentado (Maughan, Gleeson e Greenhaff, 2000). A grande causa do estabelecimento do estado de overtraining é o excesso de exercício, conduzindo a uma resposta de estresse, intensificada pelo tempo insuficiente de recuperação entre os períodos de atividade. Segundo Lima (2001, citada por Arruda, 2002) os principais sintomas apresentados são o aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, a insônia, a irritabilidade e queda do sistema imunológico. Como consequências do overtraining, vários tipos de lesões músculoesqueléticas podem surgir, dentre as quais se destacam o chamado micro traumas, que podem ser definidos como sendo traumas que não causam dor, edema ou impotência funcional, mas que, pela repetição excessiva de exercícios, produzem lesões no tecido muscular, surgindo, assim, as lesões causadas por overtraining. Devido ao seu caráter silencioso e a gravidade quer podem representar quando se manifestam clinicamente, é considerado o "câncer" da prática esportiva (Matsudo, 2002). Os principais exemplos de micro traumas disseminados no meio esportivo são as osteocondrites, fraturas por estresse, miosites, tendinites, rupturas parciais e rupturas totais de tendões, ocasionando uma má qualidade de vida, pois trás muitos problemas em sua saúde em vez de trazer benefícios e bem estar físico.

Um indício prático de lesões musculares em atletas sob overtraining é a elevação das proteínas musculares no plasma (em geral, mioglobina, creatina cinase, lactato desidrogenase e fragmentos de miosina). Outro indicador observado é o comprometimento na restauração dos estoques musculares de glicogênio, uma vez que após o exercício sabe-se que o glicogênio é depletado e posteriormente ressintetizado, porém, em músculos lesionados, há uma diminuição na capacidade de captação da glicose sanguínea necessária à ressíntese de glicogênio no músculo. A queda dos estoques de glicogênio intramuscular está associada a quedas nas concentrações muscular e plasmática da glutamina, proteína essencial para os leucócitos desempenharem suas funções de destruição de bactérias e vírus. Por este motivo é que se diz que em overtraining o sistema imunológico fica debilitado.

Há alguns anos atrás a síndrome do overtraining era característica de atletas profissionais. Agora, porém, estudos indicam que o overtraining é cada vez mais presente nas academias. Pesquisas recentes apontam que a média de tempo passada na academia pelos praticantes é de 20 horas por semana, quando na verdade o que se recomenda é o máximo de entre 8 a 10 horas de exercícios. Estes números revelam que os intervalos de descanso entre as sessões de treinamento são insuficientes para uma adequada recuperação das fontes energéticas musculares, podendo assim ocasionar inflamações nos músculos, causa suficiente para a perda de força muscular e gerar lesão.

Dados preocupantes também são observados quando relacionamos o overtraining com crianças e adolescentes. Isto acontece porque hoje em dia, com a crescente valorização das competições infanto-juvenis, fica cada vez maior a cobrança de pais e treinadores para que seus respectivos filhos e atletas conquistem os melhores resultados. A associação entre o excesso de exercícios com várias outras ocupações tais como a escola, curso de computação, curso de inglês etc., leva a um estado de fadiga física e psicológica observado nas crianças e adolescentes, prejudicando-as em sua vida diária, pois as crianças e adolescentes não irão crescer com saúde.

Um professor de educação física deve estar sempre atento em suas aulas para evitar que o estado de overtraining se estabeleça entre seus alunos. Uma conversa com os pais e responsáveis pelos praticantes sempre é importante para que se tenha uma ideia do quanto que cada aluno se desgasta fisicamente durante seu dia, ou seja, procurar saber se ele vai à escola e aos treinos de carro ou de ônibus, se mora perto ou longe do local das aulas, como está seu desempenho nas outras disciplinas escolares, enfim, informações que aparentemente são irrelevantes para qualquer professor de educação física, mas que na verdade são de fundamental importância para que ele avalie, por exemplo, o nível de estresse físico de seu aluno ao se deslocar de casa para a escola, ou também o nível de estresse mental ao tirar notas boas ou ruins nas demais disciplinas. Todas estas informações são importantes para que se evite uma cobrança exacerbada em cima de crianças e adolescentes que ainda estão em processo de desenvolvimento físico e psicológico e que muitas vezes não está preparada para responder a altura de tais cobranças, isso também se deve aplicar nas academias de musculação, o professor deve estar ciente do treino do aluno para ele não extrapolar seus limites e entrar em overtraining.

Para concluir este artigo apontaremos aqui algumas medidas que devem ser tomadas no sentido de evitar que o estado de overtraining se estabeleça nas pessoas praticantes de exercícios físicos, isso vale para atletas de alto nível e para pessoas que treinam somente para seu bem estar físico e mental.

Para você que esta iniciando a prática de atividades físicas é importante saber que não se apresse em obter resultados imediatos, pois eles não vão aparecer por mais que você queira aumentar o ritmo de exercícios diários. Não se deixe levar pelos corpos fortes e musculosos que são vistos na televisão até porque, caso você não saiba, muitos deles são adquiridos a base de substâncias proibidas e não recomendadas para uso indiscriminado. O que se recomenda é um início em ritmo lento de exercícios e progressivamente ir aumentando este ritmo, pois assim os resultados são adquiridos muito mais facilmente.

Outras recomendações a se tomar são:
1) exercitar-se por, no máximo, cinco vezes por semana, uma à duas horas por dia;
2) respeitar o tempo de recuperação do corpo, ou seja, respeitar um limite de 24 a 72 horas de descanso a cada treino. Aplicando-se a recuperação indicada a cada treino.
3) manter a frequência ideal de batimentos cardíacos segundo a idade, o peso e o condicionamento;
4) variar o tipo de exercício, intercalando aeróbios e anaeróbios;
5) manter a alimentação equilibrada e evitar dietas radicais. Ao tomar estas atitudes o praticante estará assegurando uma atividade muito mais prazerosa e sem riscos de excessos e possíveis lesões futuras.

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